O "axé" da capoeira regional:mestre Nenel em Palmas
Caros colegas, respondendo a uma provocação do Mestre para que começássemos a lista escrevendo algo que marcou as nossas vidas na capoeira, envio esse texto sobre a experiência marcante que tive ao assistir a oficina de Mestre Nenel em Palmas/TO.
Um dos assuntos tratados no nosso último encontro -- e que sempre aparece neles -- é a relação entre capoeira e as religiões afro. Pois bem, não entendo nada de umbanda ou candomblé, mas posso descrever essa experiência que tive ao ouvir tocar o berimbau do filho do Mestre Bimba.
Um dos assuntos tratados no nosso último encontro -- e que sempre aparece neles -- é a relação entre capoeira e as religiões afro. Pois bem, não entendo nada de umbanda ou candomblé, mas posso descrever essa experiência que tive ao ouvir tocar o berimbau do filho do Mestre Bimba.
Hoje em dia, os toques da capoeira regional que escutamos nas rodas são uma espécie de estilização dos toques originais, não utilizam os repiques do mestre e deixam de aproveitar uma espécie de "sujeira" sonora, uma aspereza de som que o mestre obtinha utilizando-se muito da pedra semi-presa nos repiques e da entonação diferente da resposta do coro na roda. Uma aura de africanidade se perde ao abandonarmos esse estilo de toque e de canto. O resultado é que o clima da roda se transforma. A aura de sagrado é um pouco diluída.
Pois bem, senti uma emoção muito forte ao ouvir mestre nenel demonstrar os toques da capoeira regional, e não foi só por ele ser filho do Mestre Bimba, mas foi por ele ter recuperado uma sonoridade específica, que evoca a tradição mais longínqua da capoeira. Como escrevi em um texto para o pessoal do meu outro grupo, eu me senti um elo bem frágil numa corrente infinita que é a capoeira. Frente à fragmentação de estilos e às divergências entre grupos, o berimbau de Nenel fez manifestar a ancestralidade afro da capoeira.
Fiquei pensando, depois de ter essa experiência se é isso que o povo de santo chama de "axé", uma força ancestral que dá vitalidade ao ritual que se realiza no presente e que o projeta para o futuro. Acho que vou perguntar para algum amigo que entenda da coisa.
Não sei se é isso, dado o meu parcos conhecimentos. Os filósofos ocidentais chamariam isso que tive de uma experiência da angústia existencialista. Porém não se sabe se isso aí existe também. Será que são a mesma coisa?
Bom, é isso aí. Espero que vocês também compartilhem comigo algumas de suas experiências mais significativas de capoeira.
Pois bem, senti uma emoção muito forte ao ouvir mestre nenel demonstrar os toques da capoeira regional, e não foi só por ele ser filho do Mestre Bimba, mas foi por ele ter recuperado uma sonoridade específica, que evoca a tradição mais longínqua da capoeira. Como escrevi em um texto para o pessoal do meu outro grupo, eu me senti um elo bem frágil numa corrente infinita que é a capoeira. Frente à fragmentação de estilos e às divergências entre grupos, o berimbau de Nenel fez manifestar a ancestralidade afro da capoeira.
Fiquei pensando, depois de ter essa experiência se é isso que o povo de santo chama de "axé", uma força ancestral que dá vitalidade ao ritual que se realiza no presente e que o projeta para o futuro. Acho que vou perguntar para algum amigo que entenda da coisa.
Não sei se é isso, dado o meu parcos conhecimentos. Os filósofos ocidentais chamariam isso que tive de uma experiência da angústia existencialista. Porém não se sabe se isso aí existe também. Será que são a mesma coisa?
Bom, é isso aí. Espero que vocês também compartilhem comigo algumas de suas experiências mais significativas de capoeira.
Moreno
2 Comments:
Isso não quer dizer que a capoeira esteja intrinsecamente ligada ás religiões afro. Segundo Matias Assunção, mães de santo, em meados do século passado não gostavam da associação entre seus candomblés e a capoeira, pois esta era vista até pelo povo de santo como uma prática de desordeiros.
Gosto muito de um ditado do mestre Pombo de Ouro, que diz: "por trás da capoeira está o capoeirista". Ou seja, a capoeira é o que o capoeirista faz dela. Linhagens não relacionadas às tradições afro devem pensar a capoeira de modo completamente diferente.
Apesar disso, alguns velhos mestres dizem que a capoeira tem sua própria magia, diferente da do candomblé: a mandinga, a arte de enfeitiçar o camarada, fazendo-o pensar que está dominando o jogo, quando na verdade está sendo enredado numa armadilha.
Hoje em dia, como escrevem Nestor Capoeira e Lowel Lewis, a mandinga foi racionalizada e se transformou em malícia ou em técnica pura para os estilos contemporâneos.
Ainda assim,gostaria de saber qual a relação dos grupos evangélicos de capoeira, alguns muito preconceituosos, com essa herança afro-brasileira muito forte que permeia o nosso brinquedo.
O mestre L.R., em seu comentário sobre meu texto, escreveu que nos trabalhos atuais sobre a capoeira está se descobrindo uma "ressacralização", além de aspectos de conservação da tradição nas rodas de capoeira. Posso atestar que isso citando o exemplo das rodas da Torre, onde a mandinga/malícia é um componente importante no contexto do jogo. Cito o exemplo do jogo que vi entre Apache, aluno do mestre Squisito, e Kall, mestre da roda. Ao levar uma cabeçada do Apache, Kall o chamou para uma volta ao mundo e depois ambos agacharam-se ao pé do berimbau. Kall puxou um improviso, dando um recado para o camarada, e chamou o coro:"não mexa comigo que eu não mexo com ninguém/você mexeu comigo eu mexo com você também". Ora, se a situação do Apache já era ruim -- pois estava na roda alheia entrando numas com o mestre -- aí foi que ele ficou com medo mesmo. Qualquer possibilidade de sair-se bem tinha acabado com a cantiga do Kall.
Posso citar também os improvisos nas cantigas das rodas do mestre Squisito, com destaque para o Mafu, que pode passar uma roda inteira improvisando em cima do mesmo coro com situações da roda. Lembro de uma vez em que eu estava jogando com uma criança e ele cantava falando de um tal "pinto calçudo". Eu jogando e o cara falando do "pinto calçudo". Só depois fui me dar conta de que o dito cujo era eu! O apelido era porque tenho pernas compridas e usava um abadá que só ía até as canelas.
Moreno
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