O que dizem algumas músicas de capoeira?
Senhores, quero com a crônica de hoje dar uma olhada nas letras das músicas de capoeira. Em algumas, podemos perceber ecos das disputas que existiam no meio da brincadeira; em outras, uma visão da ética que certos grupos possuem nas rodas.
Hoje fui a uma roda famosa na cidade e ouvi mais uma vez a seguinte cantiga: "Jogo mas eu não sou/Angoleiro/ toco mas eu não sou/ Angoleiro/ faço chamada mas eu não sou/ Angoleiro...". Geralmente, essa música é tocada por grupos do que se convencionou chamar "capoeira contemporânea" quando resolvem baixar o toque para angola. À primeira vista, parece um pedido de desculpas aos "verdadeiros" angoleiros, aqueles que possuiriam raízes que os ligam diretamente aos velhos mestres baianos. Jogar angola não seria apenas fazer o que os angoleiros fazem, seria necessário estar ligado a uma linhagem, a uma escola que teria concepções bem fundamentadas sobre o jogo, valorizando a ancestralidade africana do brinquedo tanto no ritual, quanto na movimentação.
Por outro lado, pode ser encarada como uma cantiga que ironiza esse mesmo fato: "ora, se eu faço tudo o que um angoleiro faz, porque é que eu não sou angoleiro?" -- estaria dizendo o cantador. Se a roda toca angola e o pessoal que tá jogando não sabe jogar angola, por que é que eles estariam fazendo -- e em público -- uma coisa que não sabem fazer?
Outra música que toca na demarcação de estilos é aquela:"Como é que tocava seu Bimba?/ Mestre Bimba tocava sentado". Devia haver um pessoal revoltado com o fato de estarem dizendo que uma das principais diferenças entre as duas escolas era a bateria estar de pé ou sentada. Ora, surgiu um cara que viu as imagens antigas do criador da regional e se tocou: "rapaz, não é que o homem tocava sentado!".
É claro, não sou ingênuo, essas músicas são respostas dos adeptos da capoeira contemporânea ao pessoal ligado ao ressurgimento da Angola nos anos 80. Estariam defendendo a idéia de que a capoeira seria uma só. Hoje em dia, essa disputa já está meio arrefecida, parece que todos se enxergam como escolas diferentes mas não excludentes, apenas formas diferentes de se interpretar o brinquedo. Numa sociedade diversificada não deveria haver também escolas diversas da brincadeira?
A questão ética é trazida por outra cantiga que tem uma parte que diz:"mas o bom capoeira não corre/ nem escolhe o lugar pra jogar". Não sei quanto a vocês, mas eu só respondo o coro dessa música por obrigação, pois a sua integridade física pode estar em perigo se você entrar em determinadas rodas em determinados momentos!
Hoje fui a uma roda famosa na cidade e ouvi mais uma vez a seguinte cantiga: "Jogo mas eu não sou/Angoleiro/ toco mas eu não sou/ Angoleiro/ faço chamada mas eu não sou/ Angoleiro...". Geralmente, essa música é tocada por grupos do que se convencionou chamar "capoeira contemporânea" quando resolvem baixar o toque para angola. À primeira vista, parece um pedido de desculpas aos "verdadeiros" angoleiros, aqueles que possuiriam raízes que os ligam diretamente aos velhos mestres baianos. Jogar angola não seria apenas fazer o que os angoleiros fazem, seria necessário estar ligado a uma linhagem, a uma escola que teria concepções bem fundamentadas sobre o jogo, valorizando a ancestralidade africana do brinquedo tanto no ritual, quanto na movimentação.
Por outro lado, pode ser encarada como uma cantiga que ironiza esse mesmo fato: "ora, se eu faço tudo o que um angoleiro faz, porque é que eu não sou angoleiro?" -- estaria dizendo o cantador. Se a roda toca angola e o pessoal que tá jogando não sabe jogar angola, por que é que eles estariam fazendo -- e em público -- uma coisa que não sabem fazer?
Outra música que toca na demarcação de estilos é aquela:"Como é que tocava seu Bimba?/ Mestre Bimba tocava sentado". Devia haver um pessoal revoltado com o fato de estarem dizendo que uma das principais diferenças entre as duas escolas era a bateria estar de pé ou sentada. Ora, surgiu um cara que viu as imagens antigas do criador da regional e se tocou: "rapaz, não é que o homem tocava sentado!".
É claro, não sou ingênuo, essas músicas são respostas dos adeptos da capoeira contemporânea ao pessoal ligado ao ressurgimento da Angola nos anos 80. Estariam defendendo a idéia de que a capoeira seria uma só. Hoje em dia, essa disputa já está meio arrefecida, parece que todos se enxergam como escolas diferentes mas não excludentes, apenas formas diferentes de se interpretar o brinquedo. Numa sociedade diversificada não deveria haver também escolas diversas da brincadeira?
A questão ética é trazida por outra cantiga que tem uma parte que diz:"mas o bom capoeira não corre/ nem escolhe o lugar pra jogar". Não sei quanto a vocês, mas eu só respondo o coro dessa música por obrigação, pois a sua integridade física pode estar em perigo se você entrar em determinadas rodas em determinados momentos!
O mestre Luiz Renato também é contrário aos valores expostos pela cantiga. Citando a constituição brasileira, ele diz que "ninguém é obrigado a fazer nada a não ser por força da lei". Um princípio herdado da Revolução Francesa que tem o objetivo de proteger o direito de livre escolha do cidadão contra a coação.
O mestre Pombo de Ouro possui uma visão diferente, porém não conflitante. Diz que se a alma do capoeirista combinar com o clima da roda, ele deve jogar. Isso soa como algo místico, mas também tem muito a ver com auto-conhecimento, com o saber se virar num mundo povoado por forças diversas situadas tanto dentro como fora do indivíduo, com a ética da malandragem e com o processo de individuação. Uma ética diferente tanto daquela do valente quanto da do indivíduo moderno.
Por hoje é só camaradas!
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