sexta-feira, julho 21, 2006

O lado sombrio da expansão da capoeira

Senhores, a postagem de hoje vai pelo caminho inverso daquele da anterior. Se ontem defendi um poder quase redentor da capoeira, hoje, depois de ler um trabalho de uma professora portuguesa sobre a expansão da capoeira pela Europa, devo concordar que existe um lado sombrio no seu crescimento. O texto encontra-se no Portal Capoeira e o download pode ser feito no endereço http://www.portalcapoeira.com/index.php?option=com_docman&task=doc_details&Itemid=253&gid=76.
A professora portuguesa Ana Jaqueira coloca que existe um componente doutrinário e autoritário muito forte no modo como se estruturam os grupos de capoeira na atualidade. Segundo ela, a capoeira baseia seu crescimento numa estrutura de franquias na qual a ligação e a interdependência entre seus membros é feita por uma pretensa filosofia de vida que seria própria da capoeira. Essa "filosofia" emanaria do mestre do proprietário mundial da franquia, que seria a fonte de toda a sabedoria e de todo o prazer que os praticantes obteriam com o jogo. Toda a excitação causada pelo tal "transe capoeirano" seria distribuído aos alunos pelo mestre.
Os mega-grupos tratariam de fortificar a sua marca através da invenção de movimentos que seriam próprios de seu estilo de capoeira. Tais inovações não precisam obedecer ao princípio da eficiência marcial nem a qualquer outro, servem apenas para criar um registro corporal em todos os alunos do grupo. Penso, então, nas esquivas da cadeira, no jogo miudinho, nos balanços inventados por certos grupos, nas gingas com o braço protegendo o rosto, nos vários floreios malucos que vemos em documentários, vários deles ensinados em aulões, em acampamentos, eventos e batizados por todo o mundo. Tudo, segundo seus inventores, "dentro da tradição".
Tal prática vai contra o discurso de que a capoeira seria uma prática libertária, o qual é repetido por todos os grupos atualmente.
É claro que essa descrição feita pela professora encaixa-se melhor a determinados grupos, mas é interessante saber que existem elementos dentro da nossa prática que podem muito bem servir ao autoritarismo e serem exacerbados a ponto de se transformarem em fanatismo e em uma ideologia que justifica até a exploração de mão-de-obra.
Isso não quer dizer que a capoeira é inteiramente má, mas sim que ela seque aberta a influências de toda a parte, vindas da organização empresarial em franquias até a proliferação de seitas de auto-ajuda, passando por grupos de lideranças colegiadas e coletivos de orientação anarquista. É a disputa entre várias tendências que vai determinar o caminho que a prática vai seguir. E essa disputa vai ficar muito interessante porque, hoje em dia, ela está sendo travada por pessoas, estudiosos, instituições e grupos do mundo inteiro.
Moreno

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Capoeira não pode ser encarada como uma forma de redenção.

11:39 AM  

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