O gênio da raça
Em conversas com o "amigo das narinas de cadáver", surgiu o seguinte assunto: por que o Mestre Pombo pensa que não se deve ganhar dinheiro com capoeira?
Tendo a responder da seguinte maneira: para o mestre Pombo, capoeira é segredo, um conhecimento esotérico que deve permanecer fora do mundo da mercadoria. É necessário lembrar que o mestre é iniciado nos segredos da Maçonaria e da Umbanda, e isso deve ter alguma influência na sua concepção da brincadeira.
Tendo a responder da seguinte maneira: para o mestre Pombo, capoeira é segredo, um conhecimento esotérico que deve permanecer fora do mundo da mercadoria. É necessário lembrar que o mestre é iniciado nos segredos da Maçonaria e da Umbanda, e isso deve ter alguma influência na sua concepção da brincadeira.
A visão que o mestre Pombo tem sobre a capoeira é mística como a de Nestor Capoeira: "Na Ásia, existe o Zen, a Europa inventou a Psicanálise, no Brasil temos o jogo da capoeira". A capoeira seria algo como o "caminho do meio", seu objetivo seria o aperfeiçoamento individual e espiritual; ajudar o homem a conviver com suas neuroses, limitações, seu lado animal e superá-los. Desenvolver e descobrir o seu jeito de jogar guarda um paralelo com desenvolver-se no sentido de tornar-se um ser pleno.
Já para o mestre Pombo, todas as pessoas possuem dentro de si o Bem e o Mal, o lado Espiritual e o lado Animal, e o principal objetivo da capoeira seria fazer com que o indivíduo tomasse consciência desses seus dois lados e trabalhasse para superar seu lado mal e instintivo, desenvolvendo o lado bom e espiritual. O mal, a malícia, poder ser bem aproveitada na capoeira, mas sob o comando da técnica, da parte mais elevada do ser humano. Algo parecido é apontado pelos grandes mestres das artes marciais orientais como o objetivo de seus treimamentos.
Já para o mestre Pombo, todas as pessoas possuem dentro de si o Bem e o Mal, o lado Espiritual e o lado Animal, e o principal objetivo da capoeira seria fazer com que o indivíduo tomasse consciência desses seus dois lados e trabalhasse para superar seu lado mal e instintivo, desenvolvendo o lado bom e espiritual. O mal, a malícia, poder ser bem aproveitada na capoeira, mas sob o comando da técnica, da parte mais elevada do ser humano. Algo parecido é apontado pelos grandes mestres das artes marciais orientais como o objetivo de seus treimamentos.
Alguns velhos mestres de capoeira também possuíam uma visão misteriosa da brincadeira. A própria frase de mestre Pastinha -- "Capoeira é tudo o que a boca come"-- não se parece com a resposta a um enigma esotérico? O que ele estava tentando dizer com isso?
Mas, voltando ao mestre Pombo de Ouro, arrisco dizer que, apesar de dar muita ênfase à diferenciação entre as escolas de capoeira em suas conversas com seus alunos -- preocupa-se em demarcar angola e regional e mostar certo desprezo pelos estilos contemporâneos -- talvez a sua maior característica seja a de ajudá-los a descobrir o seu próprio estilo de capoeira. Isso, para o mestre, compara-se a uma busca pelo auto-conhecimento e pelo desenvolvimento intelectual, emocional e mesmo espiritual do aluno. Ao mestre caberia apenas despertar o que está adormecido no iniciante, o resto, fica a cargo do próprio discípulo, guiado por seus interesses no campo da brincadeira. A transformação atlética e espiritual é feita a partir do próprio indivíduo.
Sobre a relação do método do mestre com o esoterismo, arrisco fazer algumas digressões. Acabei de ler um livro de uma socióloga que falava sobre a magia na medicina umbandista. (Da doença à desordem: a magia na Umbanda -- Autor: Paula Montero). Uma das principais partes do livro falava que a medicina científica tendia a encarar o paciente, como um "corpo morto", fragmentado em diversos órgãos e membros de sua anatomia e que não estava inserido numa família, num ambiente pertencente a determinada classe social. A magia umbandista, ao contrário, tenderia a encarar o paciente como inserido num mundo social e espiritual, seu corpo sendo um campo de batalha entre forças do Bem e forças do Mal, tanto no plano material como no espiritual.
Assim, para a umbanda, o corpo de cada indivíduo seria específico e estaria participando de um todo maior, seria um "corpo histórico". Daí o fato de que a magia umbandista tem sucesso na cura de doenças cujas causas têm que ver com a inserção social problemática dessas pessoas, ao passo que a medicina científica não tem.
Creio que podemos comparar o método de treinamento baseado em repetições à medicina científica. O método Senzala encara o aluno como um corpo morto. O método do mestre Pombo, como a magia umbandista, encara o aluno como um todo, como um corpo histórico.
Isso tem implicações interessantes para a capoeira. Temos aqui um método de ensino alternativo ao que vem sendo utilizado em todas as partes do mundo, seja por angoleiros, regionais ou contemporâneos. Um método que teria como base um sistema simbólico umbandista que, como apontado por Paula Montero, carrega uma visão de mundo elaborada pelas classes populares brasileiras. É por isso que eu considero o mestre Pombo de Ouro como um gênio, um "gênio da raça".
3 Comments:
É necessário deixar bem claro que não tenho nada contra a profissionalização da capoeira. Muito pelo contrário. Defender o amadorismo no esporte é defender um elitismo que vem da época em que o esporte era só para "cavalheiros". Nessa postagem, estou apenas apontando uma característica importante da visão de capoeira do estre Pombo: a capoeira como um mistéiro iniciático.
Sobre o sucesso da medicina umbandista: na verdade, o que Paula Montero escreve é que a umbanda dá um instrumento para o doente ressignificar sua doença, inserindo-a num contexto relacional. O doente, então, passaria a tomar consciência da sua situação social através da magia umbandista. A umbanda, então, guardaria em si uma visão de mundo ligada às classes populares. Visão que, em certos aspectos, entra em contradição com uma cultura hegemônica cas classes dominantes.
A capoeira carregaria consigo uma visão de mundo? Acho que existem diversas formas de se ensinar a capoeira, cada uma delas carrega consigo concepções diferentes da realidade.
A concepção do mestre Pombo é uma entre várias possíveis.
O fato de o aluno ser considerado como um "corpo histórico" não apenas significa que o mestre conhece melhor o aluno, mas também, e principalmente, que o aluno começa a conhecer a si mesmo e aos outros, refletindo sobre seus sentimentos na roda e no treino e extrapolando tais reflexões para a roda da vida. A capoeira para o mestre Pombo é, então, uma forma de desenvolvimento da personalidade.
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