Valeu a espera?
Cedendo a pressões de alguns dos meus leitores que cobraram novas crônicas, escrevo esta postagem. Hoje, gostaria de falar sobre um "papoeira" que aconteceu no grupo Capoeira e Conhecimento e que teve como assunto a criação da Regional.
Como encarregado de puxar a discussão, comecei falando da existência de várias correntes da vadiação na Salvador do começo do século XX e do papel do mestre Bimba na codificação da capoeira como esporte, mantendo suas raízes africanas através do diálogo, de um lado, com sistemas de ginástica como o do carioca mestre Zuma e, de outro, com as correntes da vadiação baiana -- ou o que já estava começando a ser chamado, na década de 30, de capoeira angola.
Só que esses esquematismos preparados na minha cabeça acabaram sendo abalados por um camarada capoeirista que começou a treinar nos anos 70 em Curitiba com o mestre Sergipe. Ele explicou que seu mestre foi um dos pioneiros da capoeira naquela cidade e treinou com mestre Caiçara, conhecido angoleiro de Salvador. Pois bem, o estilo de seu mestre era voltado para a eficiência e até para a violência, em algumas oportunidades, e isso não se encaixava no que se esperava de alguém que vinha de uma linhagem angoleira. Daí veio a pergunta do camarada: não havia outras regionais além da do mestre Bimba?
Respondi que não, que o termo regional é estritamente identificado com o método de capoeira sistematizado pelo mestre Bimba nos anos 30. Mas me curvei à lógica daquela questão: se havia várias linhagens de capoeira, por que não podemos supor que pelo menos uma delas não era combativa também? A eficiência era qualidade apenas do mestre Bimba naquela época? Não haveria um espírito de eficiência e jogo alto também em outras linhagens da vadiação? A eficiência também não fazia parte da tradição tanto quanto a brincadeira?
Só que esses esquematismos preparados na minha cabeça acabaram sendo abalados por um camarada capoeirista que começou a treinar nos anos 70 em Curitiba com o mestre Sergipe. Ele explicou que seu mestre foi um dos pioneiros da capoeira naquela cidade e treinou com mestre Caiçara, conhecido angoleiro de Salvador. Pois bem, o estilo de seu mestre era voltado para a eficiência e até para a violência, em algumas oportunidades, e isso não se encaixava no que se esperava de alguém que vinha de uma linhagem angoleira. Daí veio a pergunta do camarada: não havia outras regionais além da do mestre Bimba?
Respondi que não, que o termo regional é estritamente identificado com o método de capoeira sistematizado pelo mestre Bimba nos anos 30. Mas me curvei à lógica daquela questão: se havia várias linhagens de capoeira, por que não podemos supor que pelo menos uma delas não era combativa também? A eficiência era qualidade apenas do mestre Bimba naquela época? Não haveria um espírito de eficiência e jogo alto também em outras linhagens da vadiação? A eficiência também não fazia parte da tradição tanto quanto a brincadeira?
Acabou que a conclusão do bate-papo foi a de que, apesar de ser fundamental na formação da capoeira como a conhecemos hoje, a bifurcação Angola - Regional pode não ter esgotado as possibilidades da vadiação. Tanto que, dentro daquela tradição existiram vertentes como as do mestre Waldemar da Liberdade ou as do mestre Noronha -- inimigo declarado de Pastinha -- e a do mestre Canjiquinha -- que propôs uma terceira via, uma espécie de meio-termo, para o brinquedo.
Dentro do estilo mais esportivo ligado à regional, poderíamos citar o mestre Artur Emídio, baiano de Itabuna nascido em 1930 que foi grande divulgador da capoeira em filmes, lutas e apresentações folclóricas e que migrou para o Rio de Janeiro, tendo sido mestre de caras como Leopoldina. O próprio mestre Bimba parece que deu um espaço maior à cultura no estilo regional quando, em 1946, recusou um desafio de combate feito a seus alunos em Salvador, tirando a capoeira dos ringues.
Por hoje é só, camaradas. Espero que a postagem de hoje tenha valido a espera.
Moreno
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