quarta-feira, novembro 29, 2006

Correções e complementações

Caros leitores, este humilde cronista pede desculpa por alguns erros que cometeu em textos passados e aproveita para corrigir alguns deles. Segue também algum complemento das crônicas anteriores.
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Na postagem "Ô sim, sim, sim/ô não, não , não" faltou a representação do toque de São Bento Grande da Regional. Então lá vai: dom dom dim / dom "tch" dim. Onde o "tch" é o chiado do arame semi-preso.
Colocado assim no corpo do toque, esse som que não tem identidade introduz uma espécie de breque no ritmo. É a dubiedade, a malícia da capoeira que ele invoca dessa maneira, ao mesmo tempo que leva o toque mais "prá frente", aumentando a sua característica de competição e luta.
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Na crônica sobre o livro de André Lacê, escrevi que mestre Bimba nunca teria falado que capoeira é luta. Não é verdade. Existem muitas fontes, principalmente artigos de jornal, que mostram que mestre Bimba tentou instituir a capoeira regional primeiro como luta de ringue já nos anos 30. Tais fontes foram trabalhadas pelo pesquisador Jair Moura e pelo mestre Itapoã.
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Pensando bem, a prática, muitíssimo comum hoje em dia, de se tirar fotos ao lado de mestres e pessoas importantes do meio da capoeira corresponde não só à busca da entrada num mundo mítico criado pela brincadeira mas também a uma busca de acúmulo de prestígio.
Cada foto tirada ao lado de um mestre famoso é interpretada como um reconhecimento que o fotografado obtém do mestre lendário. É uma espécie de autorização vinda de uma figura superior da escala hierárquica. A magia, o carisma e a autoridade desse mestre acabariam legitimando o discípulo retratado com ele.
Na volta da viagem, o discípulo pode expor a tal foto e obter entre seus pares o reconhecimento da autoridade que de que o mestre lhe investiu. Poderá dizer que tem "mais bagagem" de capoeira do que outros colegas.
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Um dos pecados do documentário sobre o mestre Bimba foi o de não ter entrado nas polêmicas que envolvem a capoeira regional. Até que ponto ela foi baseada na ginástica nacional? A regional é somente um projeto incompleto de uma luta que se desvirtuou em exibição? Apenas a capoeira angola pastiniana é que seria a "legítima capoeira tradicional"? Como os megagrupos e franquias de capoeira de hoje estão determinando a organização da brincadeira?