Um momento irrepetível (versão do blog)
Camaradas, um dia desses um amigo me confessou: “não gosto de assistir a vídeos de roda de capoeira, pois perde-se todo o clima da vadiação, a empolgação da música, do coro e das palmas, o sentimento de se estar fazendo parte de uma coisa única e que não vai se repetir”.
No geral, concordo com ele. Porém, sei que nos dias de hoje, já começamos a assistir a vídeos para aprender movimentos e que há muitos DVDs de aulões de capoeira nas bancas que podem ser utilizados até mesmo para a atualização dos professores.
Mas não era bem disso que eu queira falar. Aquele parágrafo inicial era para abordar o caráter irrepetível de toda a boa roda. Escrevo sobre isso citando um jogo que presenciei aqui em Brasília.
Tocava-se uma Benguela bem lenta quando uma pessoa da assistência abre caminho na roda e se ajoelha ao pé do berimbau. Era um senhor negro, que aparentava ter uns 50 e poucos e que vinha com uma bolsa de couro pendurada a tiracolo. Já possuía alguns cabelos brancos e uma certa barriga num físico normal para um coroa da sua idade. O problema é que, além de nunca ter sido visto no ambiente, ele havia passado na frente de uma galera na fila e nem pediu permissão para o mestre – um cara que costuma responder a tais impertinências com chutes bem colocados.
Não existe aquele ditado -- “cachorro que engole osso, nalguma coisa se fia...”? Pois bem, pensei comigo: o que vai sair dali? Ele corria o risco de ser exposto ao ridículo ou mesmo de ganhar alguns hematomas. O senhor tinha de mostrar alguma qualidade para reverter a percepção geral que ele tinha causado na roda.
Acontece que o tal senhor comprou o jogo e saiu num aú-cabeça de quem já entendia das coisas. Rabo-de-arraia para lá e para cá colocando um jovem professor em situações delicadas. O clima da roda ainda era meio contrário a ele, pois seu jeito de jogar – aprendido em qual vadiação? – era meio que uma afronta àquele que todos naquela roda viemos aprendendo em academias. E parece que sentir raiva do diferente, mesmo admirando- o, faz parte das contradições do ser humano.
Mas a habilidade do cidadão já estava reconhecida e o mestre da roda – sensível para essas situações -- cantava, advertindo o capoeirista mais jovem que jogava com o senhor: “Toma cuidado, moleque atrevido/ calça de homem não dá em menino”; ou “Fulaninho, cuidado/ com esse jogo mandingado”. Em determinado momento, o cidadão pára e faz uma chamada. Uma contra-mestra já fica meio indignada: “Ei, isso é Benguela, não tem chamada!” O cidadão faz um muxoxo, um gesto de desprezo e continua a chamada. “Quem era aquela menina para lhe ensinar capoeira?” -- pensei. Algum tempo depois, seu jogo acaba e, percebendo que não foi muito bem recebido por nós, pega sua capanga de couro e vai embora.
São coisas como essas que eu observo numa roda de capoeira, seus momentos de tensão; a impertinência do velho capoeirista, os sentimentos dúbios que sua entrada na roda despertou em nós: raiva e admiração pelo seu estilo, pela sua idade e pela sua autoridade. Alem disso, diferentes momentos da esportivização da capoeira se apresentaram para nós naquela roda e uma maneira meio mesquinha de se lidar com o que é diferente também. E só quem esteve presente viu e sentiu na pele.
Não existe aquele ditado -- “cachorro que engole osso, nalguma coisa se fia...”? Pois bem, pensei comigo: o que vai sair dali? Ele corria o risco de ser exposto ao ridículo ou mesmo de ganhar alguns hematomas. O senhor tinha de mostrar alguma qualidade para reverter a percepção geral que ele tinha causado na roda.
Acontece que o tal senhor comprou o jogo e saiu num aú-cabeça de quem já entendia das coisas. Rabo-de-arraia para lá e para cá colocando um jovem professor em situações delicadas. O clima da roda ainda era meio contrário a ele, pois seu jeito de jogar – aprendido em qual vadiação? – era meio que uma afronta àquele que todos naquela roda viemos aprendendo em academias. E parece que sentir raiva do diferente, mesmo admirando- o, faz parte das contradições do ser humano.
Mas a habilidade do cidadão já estava reconhecida e o mestre da roda – sensível para essas situações -- cantava, advertindo o capoeirista mais jovem que jogava com o senhor: “Toma cuidado, moleque atrevido/ calça de homem não dá em menino”; ou “Fulaninho, cuidado/ com esse jogo mandingado”. Em determinado momento, o cidadão pára e faz uma chamada. Uma contra-mestra já fica meio indignada: “Ei, isso é Benguela, não tem chamada!” O cidadão faz um muxoxo, um gesto de desprezo e continua a chamada. “Quem era aquela menina para lhe ensinar capoeira?” -- pensei. Algum tempo depois, seu jogo acaba e, percebendo que não foi muito bem recebido por nós, pega sua capanga de couro e vai embora.
São coisas como essas que eu observo numa roda de capoeira, seus momentos de tensão; a impertinência do velho capoeirista, os sentimentos dúbios que sua entrada na roda despertou em nós: raiva e admiração pelo seu estilo, pela sua idade e pela sua autoridade. Alem disso, diferentes momentos da esportivização da capoeira se apresentaram para nós naquela roda e uma maneira meio mesquinha de se lidar com o que é diferente também. E só quem esteve presente viu e sentiu na pele.
Moreno
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