sexta-feira, dezembro 21, 2007

Sobre o livro do professor André Reis

Quando soube que eu estava lendo seu livro, Capoeira - saúde e bem-estar social, o professor André Reis pediu que eu escrevesse algum comentário sobre ele. Essa postagem tem esse objetivo.

O livro é o resultado de uma pesquisa feita com alunos de capoeira poloneses sobre os efeitos da capoeira para a saúde e o bem-estar dos seus praticantes. A pesquisa de André é baseada em entrevistas e questionários que apresentou aos alunos que ele ensinava na Polônia. Acontece que a concepção de saúde adotada por André Reis é diferente daquela do senso comum segundo a qual saúde é simplesmente ausência de doenças. Encarando o homem como um ser social, André percebe que vários fatores não estritamente biológicos e fisiológicos, mas sociais e existenciais contribuem para a aquisição de saúde e bem-estar social do indivíduo.

O que achei legal no livro foi justamente isso: a abordagem existencial do aprendizado da brincadeira, dos sentimentos contraditórios que nós os aprendizes experimentamos em nossas relações com o professor, com outros aprendizes e conosco mesmos durante as aulas de capoeira. Sentimentos de aceitação ou inadequação; frustração ou motivação; rivalidades e amizades; conflitos entre os alunos pela atenção do mestre ou de outros alunos; disputas de poder dentro da roda... tudo isso é levado em consideração no livro para a determinação dos efeitos da capoeira para o bem estar individual.

Em via de regra, hoje em dia não há muita atenção por parte dos professores para com os sentimentos dos alunos nos treinos de capoeira. Esquecem-se que vários de seus aprendizes possuem ansiedades quanto ao aprendizado e à integração com os outros membros do grupo, que se interessam por aspectos específicos da vadiação, que têm necessidade de perceber um sentido para os treinos ... e por aí vai.

Fica expresso no livro que a capoeira pode sim contribuir para o bem-estar dos indivíduos, mas também tem o potencial de piorá-lo, dependendo das relações aluno-aluno e mestre-aluno e da forma como o aluno vivencia seu aprendizado. Como o autor reconhece a centralidade da figura do mestre na estruturação de tais relações e daquela vivência, depreende-se que o grupo tem a cara do seu mestre e que as trocas que se estabelecem dentro da agremiação serão saudáveis ou não dependendo do direcionamento que aquela figura estabelece nas aulas.

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Antes de terminar, gostaria de corrigir uma coisinha da postagem anterior: é que o quilombo dos Palmares se formou num a área que hoje está entre os estados de Pernambuco e Alagoas.

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Encerro essa postagem com um abraço e votos de feliz Natal e de um Ano Novo cheio de realizações para todos. Um abraço do Moreno!