terça-feira, fevereiro 14, 2006

O "axé" da capoeira regional:mestre Nenel em Palmas

Caros colegas, respondendo a uma provocação do Mestre para que começássemos a lista escrevendo algo que marcou as nossas vidas na capoeira, envio esse texto sobre a experiência marcante que tive ao assistir a oficina de Mestre Nenel em Palmas/TO.
Um dos assuntos tratados no nosso último encontro -- e que sempre aparece neles -- é a relação entre capoeira e as religiões afro. Pois bem, não entendo nada de umbanda ou candomblé, mas posso descrever essa experiência que tive ao ouvir tocar o berimbau do filho do Mestre Bimba.
Hoje em dia, os toques da capoeira regional que escutamos nas rodas são uma espécie de estilização dos toques originais, não utilizam os repiques do mestre e deixam de aproveitar uma espécie de "sujeira" sonora, uma aspereza de som que o mestre obtinha utilizando-se muito da pedra semi-presa nos repiques e da entonação diferente da resposta do coro na roda. Uma aura de africanidade se perde ao abandonarmos esse estilo de toque e de canto. O resultado é que o clima da roda se transforma. A aura de sagrado é um pouco diluída.
Pois bem, senti uma emoção muito forte ao ouvir mestre nenel demonstrar os toques da capoeira regional, e não foi só por ele ser filho do Mestre Bimba, mas foi por ele ter recuperado uma sonoridade específica, que evoca a tradição mais longínqua da capoeira. Como escrevi em um texto para o pessoal do meu outro grupo, eu me senti um elo bem frágil numa corrente infinita que é a capoeira. Frente à fragmentação de estilos e às divergências entre grupos, o berimbau de Nenel fez manifestar a ancestralidade afro da capoeira.
Fiquei pensando, depois de ter essa experiência se é isso que o povo de santo chama de "axé", uma força ancestral que dá vitalidade ao ritual que se realiza no presente e que o projeta para o futuro. Acho que vou perguntar para algum amigo que entenda da coisa.
Não sei se é isso, dado o meu parcos conhecimentos. Os filósofos ocidentais chamariam isso que tive de uma experiência da angústia existencialista. Porém não se sabe se isso aí existe também. Será que são a mesma coisa?
Bom, é isso aí. Espero que vocês também compartilhem comigo algumas de suas experiências mais significativas de capoeira.
Moreno