"Mestre Bimba - A capoeira iluminada": anotações
Infelizmente, perdi a crítica que tinha escrito sobre o filme. Anoto apenas esse "insight" que tive.
O fime começa com os alunos do mestre falando sobre a influência dele nas suas vidas e depois passa a apresentar as várias mulheres que o mestre Bimba teve. Intercalados com tais depoimentos e ganhando destaque no fim, aparecem trechos com entrevistas de um conhecido mestre de uma conhecido megagrupo.
Tais inserções são a grande isca do filme para a platéia desavisada. Não quero aqui julgar se tal ou qual mestre tem ou não legitimidade para reivindicar a herança de Manoel dos Reis Machado, quero apenas dizer que o documentário esconde o fato de a organização atual dos grupos de capoeira ter assumido novas formas desde a criação do grupo de mestre Bimba nos anos 30 do século passado. Entre as rodas de vadiação, as academias de meados do século XX, os grupos folclóricos e os grupos-empresas multinacionais há uma diferença muito grande.
Como isso não foi abordado no filme, fica parecendo que a capoeira não mudou nesse período de tempo: métodos de treinamento, relacionamento mestre-aluno, organização e dinâmica de funcionamento dos grupos, tudo teria continuado o mesmo. Os efeitos que tais mudanças tiveram na brincadeira não são abordados. Há uma idealização muito grande da figura do mestre Bimba, e o filme se aproveita da força desse mito não-questionado pelos seus ex-alunos para projetar uma herança apresentada como direta e linear do criador da regional sobre os grupos-franquia dos dias de hoje.
Assim, escondendo a especificidade da forma de organização da capoeira nos dias de hoje, o documentário acaba legitimando uma realidade muito diversa da que o mestre Bimba conheceu, virando peça publicitária a serviço da expansão dos megagrupos.